Reflexão "Feminina"

domingo, 1 de junho de 2008

Branco!
O cabelo está branco. O shampoo odorante já não dá conta. Vou ter que pintar pela 1ª vez.
Um olhar no espelho, um clique.
"Tia"! E aumenta freneticamente o numero de rapazes e moças que me chamam assim. Cresce o numero de vezes em que no trabalho tenho que dizer para alguém que não precisa me chamar de senhora e que repito a frase : "Fui muito amiga de seu pai". E o cara na minha frente é um homem enorme.
Voce está conservada!
Conservada? Conservada é múmia!
Em que momento exato da vida a gente se dá conta de que não se é mais jovem? Ou é de meia idade? Daqui alguns dias será meu aniversário. Já não me sinto mais à vontade em me imaginar nos trinta. Estou bem mais perto dos cinquenta. Tenho que aceitar a evidencia. Como vai ser agora? O que isso significa? Reflito! Penso que não quero vender a minha alma ao diabo em troca da juventude. Não quero parar o relógio do tempo, presa a uma situação cruel e rígida.
Me cuido sim, sou vaidosa. Tenho muita roupa, muito sapato, muito cosmético. Faço ginástica, tomo vitaminas, faço check-ups regulares, controlo a alimentação para não virar um balão. Mas não vou me matar para ficar um palito. Não quero me comportar como se a qualquer momento pudesse ser apanhada em flagrante em alguma falta e pagasse por isso com o castigo da solidão.
Não quero deixar de viver, preocupada em colocar meu rosto e meu corpo dentro de formas pré-estabelecidas. Não vou valer menos porque não tenho mais o fisico de uma adolescente. Quero me encontrar com o meu corpo. Aceitar os meus cabelos brancos, as rugas no pescoço, o estado permanente de uns quilos a mais. Quero me sentir a vontade com o meu momento presente.
Não quero parecer jovem. Quero ser jovem, cheia de vitalidade e ter direito a liberdade de imaginar o meu próprio futuro e de ter orgulho de minha vida!
Não posso me queixar : fiz sempre o que quis, com todas as consequencias, boas e ruins, dessa atitude. Sem nuances, sem meios-tons.
Tudo radical, branco ou preto. Não tive medo de desperdiçar a juventude. Tive medo de não fazer nada com ela. Amei, pintei, bordei, briguei, fiz, desfiz, construi, cometi um monte de bobagens, quebrei a cara pacas. Vivi!!!
Foi dificil, sofrido, porque tudo era acompanhado de uma espera intolerável de algo que não chegava nunca, um desejo permanente de estar em outro lugar, em outro tempo.
Jovem, eu era forte, louca, tinha certeza de tudo e estava sempre perdida. Tinha tudo e não era capaz de aproveitar nada. Porém, pavimentei o caminho para o meu hoje.
Felizmente, continuo tendo conflitos. Sonho com um trabalho tranquilo, estabelecido. Quero sair pelo mundo criando, construindo. Conquistei, porem, uma certa calma e liberdade, uma vitalidade intrinseca da qual não era capaz na juventude : a sabedoria que vem da visão distanciada, das longas perspectivas e bases profundas. Continuo acreditando e lutando por essas crenças, só que mais calmamente e com outros métodos. Tem tanta coisa que eu quero fazer, aprender, saber, viajar, conhecer! Quero amar, construir, fazer coisas que eu nunca fiz, começar de novo, inventar!
As rugas marcando o meu rosto, mas elas não precisam marcar o meu coração.
Envelhecer?
Não tenho tempo para isso!!!

By Fátima Calegari ( Brima )

0 Comments: